Água fresca... para ideias com sede...

quarta-feira, janeiro 31

Seleccionando...

Quando existe uma boa solução:

CRUZEIRO DO SUL

CRUZEIRO DO SUL

O sol dissolve-se lentamente no risco distante
Sentado na areia quente, alongo o olhar
Para a lonjura diante de mim
A noite violeta estende-se mansamente
Já se vê Orion e o olho vermelho de Marte
E a Estrela Polar brilhando intensamente
Procuro o Cruzeiro do Sul em vão
Companheiro de farras e de insónias
Não está lá, só nos meus sonhos
Olho de novo, para o meu coração
Com a certeza de que os céus da minha pátria
Continuam a existir
Penso em Copérnico
E em como o odeio por ter razão
A terra é redonda
E o meu céu, não o consigo ver
Mas sei que existe.
Para lá do horizonte

Ah! se eu soubesse!...




Ah! se eu soubesse dizer-te ( sem dizer)
O supremo êxtase (quando digo!...)

E os meus lábios sedentos (a tremer)
Murmuram o teu nome (num gemer)
Como se na vida o maior prazer
Fosse viver mil vezes e morrer...
Morrer, para mil vezes viver contigo!...


"Diamante"




Olhámo-nos um dia,
E cada um de nós sonhou que achara
O par que a alma e a cara lhe pedia.

– E cada um de nós sonhou que o achara...

E entre nós dois
Se deu, depois, o caso da maçã e da serpente,
... Se deu, e se dará continuamente:

Na palma da tua mão,
Me ofertaste, e eu mordi, o fruto do pecado.

– Meu nome é Adão...

E em que furor sagrado
Os nossos corpos nus e desejosos
Como serpentes brancas se enroscaram,
Tentando ser um só!

Ó beijos angustiados e raivosos
Que as nossas pobres bocas se atiraram
Sobre um leito de terra, cinza e pó!

Ó abraços que os braços apertaram,
Dedos que se misturaram!

Ó ânsia que sofreste, ó ânsia que sofri,
Sede que nada mata, ânsia sem fim!
– Tu de entrar em mim,
Eu de entrar em ti.

Assim toda te deste,
E assim todo me dei:

Sobre o teu longo corpo agonizante,
Meu inferno celeste,
Cem vezes morri, prostrado...
Cem vezes ressuscitei
Para uma dor mais vibrante
E um prazer mais torturado.

E enquanto as nossas bocas se esmagavam,
E as doces curvas do teu corpo se ajustavam
Às linhas fortes do meu,
Os nossos olhos muito perto, imensos,
No desespero desse abraço mudo,
Confessaram-se tudo!
... Enquanto nós pairávamos, suspensos
Entre a terra e o céu.

Assim as almas se entregaram,
Como os corpos se tinham entregado,
Assim duas metades se amoldaram
Ante as barbas, que tremeram,
Do velho Pai desprezado!

E assim Eva e Adão se conheceram:

Tu conheceste a força dos meus pulsos,
A miséria do meu ser,
Os recantos da minha humanidade,
A grandeza do meu amor cruel,
Os veios de oiro que o meu barro trouxe...

Eu, os teus nervos convulsos,
O teu poder,
A tua fragilidade
Os sinais da tua pele,
O gosto do teu sangue doce...

Depois...

Depois o quê, amor? Depois, mais nada,
– Que Jeová não sabe perdoar!

O Arcanjo entre nós dois abrira a longa espada...

Continuamos a ser dois,
E nunca nos pudemos penetrar!


José Régio

"Na palma da tua mão"


"Diamante"

Luanda actual

Igreja de Nazaré

Moringues (3)


Quem bebeu água do moringue, recordará sempre!

OS MEUS HERÓIS

Quando entramos para a escola começamos a aprendizagem de um monte de coisas, e uma delas são os heróis da nossa história, e da dos outros. Até ali, os nossos heróis são normalmente os nossos pais, um familiar ou um vizinho. Eu como fui para a escola no tempo colonial, comecei (eu e os outros que estudaram nesse tempo) por levar com o D. Afonso Henriques, o primeiro Rei de Portugal. História chata, o Afonso bateu na mãe, e acabou por fundar a que seria a nossa futura e agora ex. “metrópole”, mas não gostei, um homem que bate na mãe não deve ser grande coisa. Depois levei também com uma padeira que era de Aljubarrota, sinceramente também não fiquei lá muito convencido com a estória dos pães.

E vários heróis se seguiram, o resultado era sempre o mesmo, não me convenciam, não achava nada de interessante nas personagens, o que fez de mim um indivíduo sem heróis.

Acreditem que é chato para caramba, não ter heróis.

É que até na banda desenhada que se lia na época, eu gostava mais dos índios que do Búfalo Bill ou do General Custer, na colonização sangrenta do velho Oeste Americano. E nos filmes de cow-boys então, achava ridículo o John Wayne, um matulão que era maior que os cavalos, e que com uma espingarda limpava dois índios com um só tiro. Lá fui crescendo, sem heróis.

Depois da nossa independência, também me apresentaram os novos heróis, mas continuei a ser o mesmo anti-herói empedernido.

Bem, mas depois de quase velho, no início da década de noventa do século passado, li um livro de um homem que já sabia que existia desde jovem. Depois da nossa independência, passei a saber um pouco mais quem era essa personagem. Nessa altura, ele já era há muito a bandeira do povo do seu país.
E caso curioso o seu nome parecia que agradava a todo o mundo. Era desde aos países do leste Europeu, na altura comunistas e amigos do peito do governo cá do burgo, mas também tinha o mesmo efeito nas ditas democracias do ocidente, no continente africano o efeito era o mesmo, desde o Mobuto, um ditador corrupto de direita, ou às ditaduras corruptas de esquerda, todos eles exigiam a sua libertação. Aí estava alguém que parecia mesmo um herói, estava todo mundo de acordo, apenas os que o mantinham na cadeia é que estavam fora daquela unanimidade geral.

Os anos passaram e um dia os carcereiros da bandeira mundial, não tiveram outro remédio senão o libertar daquele longo e injusto cativeiro.
As televisões de todo o mundo, inclusive a nossa TPA deram as imagens desse momento e das seguintes do Homem. Curioso, acompanhei esses momentos televisivos, e fiquei surpreendido, quando vi um ancião alto, de ar decidido, com um andar caricato, e com um sorriso permanente nos lábios, não parecendo decididamente que tinha estado longos 27 anos na cadeia.
Mais estranhos ainda eram os discursos dele. É que o tal ancião só falava de amor, paz e democracia, tolerância, transparência e que o seu país iria ser um verdadeiro arco-íris.

Muita gente esperava que depois de tanto tempo de luta e tantos anos de cadeia, que o Homem fosse mais um revolucionário inspirado nas ideias falidas do marxismo-leninismo, ou mais um dos lideres africanos, que nunca sabemos o que pretendem, a não ser governarem governando-se. Mas qual quê? Ele nos longos anos de cadeia parece que conseguiu entender muito o melhor o mundo, que aqueles que o tinham comandado e influenciado nos últimos vinte sete anos.

Depois como já disse, li o seu livro, “O longo caminho para a liberdade”. Comprei-o numa livraria de Lisboa, a pensar lê-lo já em Luanda, mas que nada, lá mesmo comecei a lê-lo e não mais parei, devorei-o rapidamente, e assim consegui entender melhor o raciocínio e a lógica do pensamento dessa personagem fantástica. E eu, com quarenta e tal anos, tinha encontrado o meu HERÓI.

Todos os que estejam a ler estas linhas já perceberam que o meu herói só pode ser o sul-africano Nelson Mandela.

Acreditem que quando decidi fazer dele o meu herói fiquei aliviado. Passei a entender esse sentimento, pois sempre me fez confusão ver os outros a falar dos seus heróis, e eu a não entender tanta felicidade e admiração.

Actualmente dado a sua avançada idade, as suas aparições são menos frequentes, e raramente faz declarações, o que se compreende, mas é pena, pois as suas posições lúcidas seriam sempre referências a seguir pelos que acham que ele é um farol no meio de tanta estupidez internacional.

O mundo está de facto cheio de gente estúpida, a começar pelo alcaide-mor da super potência mundial, o patético George Bush, que faz a política do, “se não és por mim, és contra mim”, aos lideres do mundo muçulmano, que fazem da política de estado a religião, com um fanatismo que ultrapassa a irracionalidade, às oligarquias africanas, sem esquecer a China, que encontrou uma fórmula duvidosa, que é, liberdade económica, e falta dela nos aspectos mais fundamentais da liberdade de expressão e de direitos humanos. A velha Europa com todos os seus valores democráticos, parecem muito gordos e burgueses e por vezes parecem não entender o que se passa no resto do planeta, voltados mais para uma União europeia, projecto que já pareceu mais azul, que nos tempos que correm.

Que pena a humanidade na sua longa história, ter produzido mais gente como Hitler, Bin Laden, ou Bokassa, do que homens como o nosso Nelson Mandela. Porque será que é mais fácil ser estúpido, egoísta e mau para com os seus semelhantes, do que o contrário? Como seria o mundo se todos nós tivéssemos um pouco de Mandela dentro de nós? Certamente o planeta azul seria muito mais agradável, e a nossa curta passagem por esta vida seria muito mais gratificante.

Não é a bandeira portuguesa...

É um beijo:


Complementarios, Ernesto Bertani

terça-feira, janeiro 30

O GAJO

O gajo que não queria ir á tropa!

Texto verídico de um gajo que não queria ir à tropa.

ExmoSr. Ministro da Defesa,
Venho deste modo explicar-lhe uma situação delicada que tem vindo a ocorrer, de maneira a poder obter um eventual apoio vindo de VossaExa:
Tenho 24 anos, e fui esta semana chamado para ir à tropa. Sou casado com uma viúva de 44 anos, mãe de uma jovem de 25 anos, da qual sou o padrasto. O meu pai, por seu lado, casou com essa jovem em questão.
Neste momento, o meu pai passou a ser o meu genro, uma vez que se casou com a minha filha.
Deste modo, a minha filha, ou chamemos-lhe, enteada, passou a ser a minha madrasta, uma vez que é casada com o meu pai.
A minha esposa e eu tivemos, no mês passado, um filho.
Esse filho tomou-se o irmão da mulher do meu pai, portanto o cunhado do meu pai.
O que faz com que seja o meu tio, uma vez que é o irmão da minha madrasta.
O meu filho é, portanto, o meu tio...
A mulher do meu pai teve no Natal um rapaz, que é ao mesmo tempo o meu irmão, uma vez que ele é filho do meu pai, mas o meu neto por ser o filho da minha enteada, filha da minha esposa.
- Desta maneira sou o irmão do meu neto!!...
E como o marido da mãe de uma pessoa é o pai da mesma, verifiquei que sou o pai da minha esposa, e o irmão do meu filho.
Resumindo: sou o meu avô!!!
Deste modo, Sr Ministro, peço-lhe que estude pacientemente o meu caso, porque a lei não permite que o pai, o filho, e o neto sejam chamados à tropa na mesma altura.
Agradecendo antecipadamente a sua atenção, mando-lhe os meu melhores cumprimentos.

O Gajo

Quem diria que havia gajos que para escaparem à guerra do Iraque tinham tanta melodia no desenrolar do convencimento! Assim, sim, meus kambas. Vale a pena ser gajo!

Já em 1982...

«O acto sexual é para ter filhos» - disse na Assembleia da República, no dia 3 de Abril de 1982, o então deputado do CDS João Morgado, num debate sobre a legalização do aborto.

A resposta de Natália Correia, em poema - publicado depois pelo Diário de Lisboa, em 5 de Abril desse ano -, fez rir todas as bancadas parlamentares, sem excepção, tendo os trabalhos parlamentares sido interrompidos por isso:

Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

Natália Correia, 3 de Abril de 1982

espreitando o moringue



O português é traiçoeiro...

Na sequência do post do Fifer sobre os rebuçados Kona, fiquei curiosa e fui ao Google procurar o que havia por esse mundo fora com a dita cuja designação.
Ora vejam lá como é tão comum:

  • Se quiser andar de biciclete, compre uma biciclete Kona, que pode encontrar em vários países, nomeadamente no Brasil e no Reino Unido;
  • Se, por outro lado, estiver interessado/a em passar umas férias paradisíacas, vá até à Kona, a maior ilha do Hawaii, que até tem um aeroporto com o mesmo nome, e reserve uma cama no resort Kona. De preferência, vá na altura do Festival Kona e aproveite para participar na Maratona Kona. Como é de bom tom cultivar o espírito, não se esqueça de passar pelo Museu da Sociedade Histórica de Kona. Não tenha receio, se ficar doente existe lá o Hospital Kona, bem como a Universidade Kona, se quiser por lá ficar a estudar;
  • Se estiver com aquela vontade louca de uma loira geladérrima, pode beber uma Kona;
  • Se tiver fome, vá jantar ao Grill Kona (pelos vistos há vários), onde não deverá esquecer de pedir, no final do repasto, um café Kona;
  • Se, no entanto, estiver em visita ao arbusto, oiça a rádio Kona;
  • Se nas suas andanças nos States perder o seu animal de estimação, não se preocupe. Ligue para a Kona;
  • Aos nossos músicos de serviço, se ganhássemos o euromilhões, até lhes podíamos oferecer a cada um uma bela guitarra Kona;
  • Mas há outras Konas. Por exemplo no Burkina Faso, na República Checa, e até uma palavra num documento do governo de Timor.
Ainda há muito mais, mas cansei... Espero não vos ter cansado também!
Abracinhos


Cheguei da neblina viajando e estou a ver catuíti na árvore, ignição morderna, bué de luz [loool], zé de laves, JJs, gaviões, bekas... e toques!
Vai aquecer!
Xé Toke, ñ achas que nos marcadores está a faltar... música?
Estás a pensar numa pequena digressão pela europa decadente?


@ana b - obrigado pela chave da porta de entrada!

LENINE FOREVER

EQUIPA CHEGA A PÉ AO CENTRO DA ANTÁRTIDA

Exploradores canadianos e britânicos, chegaram pela primeira vez a pé ao centro geográfico da Antártida, depois de percorrerem mais de 1700 kms. O polo da Inacessibilidade ( centro geográfico), já tinha sido visitado em 1958 por exploradores soviéticos, que viajaram numa coluna de veículos. A equipe chefiada por Paul S., ficou estupefacta ao encontrar no meio do gelo, ainda de pé, um busto de Lenine."Reparamos num ponto negro no horizonte e, à medida que nos aproximávamos começou a aparecer o contorno do busto..."

Um abraço
GED

segunda-feira, janeiro 29

Ferrados


Estas figuras representam as marcas com que os escravos angolanos eram ferrados pelos seus donos, como se de animais se tratasse.

Ondulando a bandeira do cristianismo, os portugueses chegaram a Angola em 1483 tendo, na verdade, como finalidade o agenciamento de milhões de escravos para as Américas.
Após o estabelecimento dos portugueses na costa de Luanda, o comércio de escravos e de marfim tornou-se a sua principal actividade, começando para o efeito as campanhas militares para o interior de modo a capturar e vender africanos.
Os horrores da escravatura deixaram marcas indeléveis em Angola. Durante mais de 300 anos, cerca de 4 milhões de escravos angolanos foram enviados para as plantações do Brasil e para as minas do México. 30% de todos os escravos iam de Angola. De todos os capturados no interior de Angola, só um quarto chegava vivo ao outro lado do Atlântico. Em três séculos de comércio esclavagista em Angola, estima-se que 12 milhões morreram.

O comércio de escravos teve um papel muito importante na história de Angola, e entre o séc. XV e o séc. XIX, os africanos eram trocados por armas, pólvora, álcool, e outros artefactos.
A partir de dois portos chave, Luanda e Benguela, o comércio esclavagista floresceu. Em Benguela, ficaram famosos os "quintalões", onde os escravos eram mantidos presos.

(Quintalões em Benguela)

No séc. XVI, Luanda tornou-se o centro da presença portuguesa em Angola. Ligada directamente ao comércio de escravos levados para o Brasil, transformou-se no final da viagem das "caravanas" de escravos vindas do interior. Vários edifícios são ainda a memória desse tempo: o porto, fortes, igrejas e capelas, mercados, quintalões, mas também os lugares de resistência e refúgio, de pessoas que se tinham tornado mercadoria para os europeus, vendidas no Terreiro Público.
No séc. XIX, D. Ana Joaquina torna-se a maior comerciante de escravos de Angola, a par de outros negócios.

(Palacete de D. Ana Joaquina, Luanda)

Já a Igreja desempenhou também um importante papel na "cristianização" dos escravos, que tinham de ser baptisados antes de serem levados para os navios negreiros como carga, passando a simbolizar a opressão e a oposição às religiões e práticas animistas africanas e mantendo-se como um testemunho da violência da escravatura.

A partir de 1840, os colonos brancos avançam para o interior, depois de fortes rumores acerca das riquezas fabulosas de minerais e também da terra fértil para a agricultura. Para assegurar a terra, Portugal então envia forças expedicionárias, que se prolongam por cerca de 100 anos. Inicialmente, houve forte resistência dos habitantes locais, que para o final sucumbiram à força de fogo dos invasores. O resto da história, alguns de nós presenciámo-la...

Ver aqui informação interessante. E, já agora, vejam este documento.

PASTILHAS NO MORINGUE


Enquanto esse maroto do nosso amigo Karipande não tiver a "coragem" de se apresentar ao serviço com os seus textos "provocatórios", deixo-vos aqui um "rebuçado" com papel e tudo para vos deliciar o bom gosto que demonstram ter. Grande Moringue!

O MEU PAÍS


Este é o nosso país. deixo-vos este meu poema velhinho.

Um abraço GED


O MEU PAÍS

Dentro da minha cabeça
Tenho uma caixa de lápis de cor
Com que pinto os sonhos.
Neste
Pego no lápis castanho escuro
E pinto duas muanhas altivas
Que passavam perto de mim.
Dou-lhes mais um pequeno toque
Para que se veja o andar
Que só as gentes do sul têm
E que nós tão bem conhecemos
E para podermos ouvir
Os chocalhos amarrados na canela.
Peguei nos verdes, ah os verdes
E tive que usar todos os tons
Para pintar as matas densas
Passei levemente por cima
O lápis cinzento
Como esquecer-me dos cacimbos
Que tantas vezes me arrepiaram a pele?
Lá ao longe dois morros de basalto
Cortam o horizonte da savana
Pinto-os com o lápis preto.
Com o lápis amarelo dourado
Pinto a imensa anhara
Onde tantas vezes me perdi
E me encontrei.
No meu sonho tinha chovido
Uma chuva bravia, poderosa
Desenhando alinhavos no pano da tarde
E cheirava intensamente
Aquele cheiro da terra depois da chuva
Não o pintei, não consegui
Afinal
De que cor se pinta o cio da terra?
Com o lápis vermelho
Pintei o sol enorme de fim de tarde
E vi no mar
Aquele imenso rasto de sangue
Por fim, com o lápis azul
Sempre o lápis azul
Coloquei no canto direito
A minha assinatura
Esperando, ansiando
Que gostem deste sonho.
Não o vendo, apenas o ofereço
Afinal,
Que preço pode ter um país?

Henrique Faria
Setembro de 2003

Moringues (2)



Aproveitando o poema que o nosso amigo "Diamond" deixou em comentário:

O Moringue

O sol que queima as folhas das palmeiras
E os pés caminhantes sobre a areia
O sol que traz o vento e afasta o peixe
Ele não esquentará a água do moringue.

Não há sol no canto desta casa
Há sombras dos luandos que fazem as paredes
A areia do chão traz a frescura da terra
Os caniços do luando têm a frescura
Que trouxeram das terras de Cabíri
Quando, de andar nas canoas, voltamos do mar
E a garganta vem a arder como se fosse sal
A água do moringue sabe-nos como nada mais.

E, a quem nos pede, com o coração alegre,
Nós a oferecemos, nas canecas de esmalte.


Henrique Guerra

POWER TO THE PEOPLE

Hoje em dia, a consciência portuguesa tem dois "grilos falantes". Não me parece de todo saudável, uma vez que todos temos cabeça para pensar! Mas vejamos:
- Marcelo Rebelo de Sousa, palavroso e opinativo, até dá notas a toda a gente. Muitas vezes espera-se que fale para se formar opinião. Este mestre, assumiu recentemente uma postura sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, que é um marco. Nem sim, nem não, nem nim. Um verdadeiro disparate. Quem estava à espera de formar opinião danou-se. A ele dava-lhe negativa.
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Pacheco Pereira é outro "opinion maker". Na revista Sábado sob o título "Perigos absolutos da demagogia" diz o seguinte: O caso da criança que está escondida pelo "pai do coração" e que um tribunal condenou a seis anos de cadeia por não a entregar ao pai biológico, transformado em escândalo nacional, tornou-se um dos melhores exemplos de como é fácil e perigoso usar a esfera mais intima e familiar para causas de excitação pública. ... não sei se as pessoas estão a perceber bem no que se metem se forem por esse caminho em tropel, como estão a ir.
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Pois é! Embora eu discorde da propaganda muitas vezes apenas buscando a notícia fácil, desta vez PP enganou-se. O Ministério Público fez questão de vir explicar tudo. Desta vez o movimento reactivo, fez-se com pessoas diferentes do povo em geral. Refiro-me claro está, a todos aqueles que aproveitam as televisões para darem largas à sua histeria. O abaixo assinado, tinha lá nomes insuspeitos de estarem ligados a campanhas fáceis. Uma opinião tem sempre um valor inestimável, mas pensar pela nossa cabeça, também tem o mesmo valor, ainda que seja diferente destas opiniões veiculadas pelos nossos "grilos falantes".

ESTAMOS JUNTOS

Foi com grande alegria, que aceitei o convite da Ana.
Espero encontrar aqui a paz que não encontrei nunca na Sanzala, embora haja lá muita gente de quem eu gosto.
Vai-me saber bem, tratar de tudo, com serenidade e respeito mútuo.
Virei aqui todos os dias.
Um abraço
GED

domingo, janeiro 28

Moringues (1)



Angola Farm

Não sei como dei com este texto, mas como acho que pode ser um bom tema de discussão, aqui fica:

Da Capital do Império

Olá!
"Angola USA". É um título giro para uma grande reportagem fotográfica ou um documentário de televisão. Infelizmente não tenho "massa" nem financiadores para isso. Os angolanos – que têm muita "massa" e seriam em teoria os mais interessados – herdaram dos portugueses a atitude de "quero lá saber" pelo que a perspectiva de fazer a tal reportagem ou documentário é presentemente tão grande como a possibilidade dos EUA deixarem de ser a potência mundial no próximo século.
Mas deixem-me explicar-vos de onde me surgiu a ideia.
Há alguns anos atrás, acabadinho de chegar aqui aos "states" fui ao pequeno estado de Delaware fascinado com o facto de uma cidade à beira mar ter exactamente o mesmo nome que uma cidade na Namíbia – Rehoboth. Nada de extraordinário nessa coincidência. Coisas dos holandeses que talvez devido à falta de imaginação repetiam nomes pelo seu vasto império e neste caso nem sequer fizeram aquilo que todos os colonos, incluindo eles próprios, os tugas e os bifes faziam na generalidade ou seja acrescentar a palavra "nova" ao nome de todas cidades.
Nova Lisboa, Nova Iorque, Nova Hampshire, Nova Amesterdão, são assim provas da capacidade criativa assustadora dos colonos em termos de nomenclatura. Mas isso é outra questão.
O importante aqui é que ao ir para Rehoboth deparei com um grande sinal que dizia "Angola Farm".
Tenho a admitir que ao ver o sinal a primeira reacção que tive foi a de inveja. "Sacana do retornado comprou uma machamba aqui na América e está rico," foi o que pensei.
Santa ignorância! Alguns meses depois tive que fazer uma notícia sobre uma execução de um criminoso qualquer que se ia realizar no Luisiana e deparei com o nome de Angola. É o nome da maior prisão desse estado e onde são executados os condenados à morte da Luisiana. (Angola e morte… estamos juntos! diriam alguns)
Telefonei à prisão para saber de onde vinha o nome e de lá disseram-me que era o nome de uma plantação. O subchefe lá da prisão (vejam lá!) sugeriu que eu telefonasse à Universidade da Luisiana e pedisse para falar para o Departamento de História. O que fiz. E que me levou a manter uma interessante conversa com um professor que me explicou que nos tempos da escravatura os donos das plantações tinham como hábito dividir os escravos em grupos. Para a brancalhada proprietária aparentemente só havia dois grupos de escravos: Os "angolas" e o resto. Portanto as plantações onde trabalhavam os "angolas" ficaram conhecidas como Angola. Daí a tal Angola no Luisiana, a Angola Farm no Delaware. Aparentemente há mais antigas plantações "Angola" espalhadas pelo sul. No estado da Virgínia houve uma plantação Angola que pertenceu inicialmente a um tal Anthony Johnson que era na verdade "António, o Negro" que foi libertado pelo seu patrão um tal Johnson. O António adoptou o nome do patrão, e comprou terra que chamou de "Angola". Mais tarde foi para o estado de Maryland onde iniciou o cultivo numa propriedade chamada… Angola. Há também Angola no estado de Nova Iorque (missionários que trabalhavam com os escravos ou em Angola deram-lhe o nome) e Angola no estado do Indiana (Uns tipos que "emigraram" de Angola em Nova Iorque para o Indiana deram-lhe o mesmo nome. Deviam ser holandeses porque se esqueceram de acrescentar a palavra "nova").
Antes de avançar mais tenho que fazer um parêntesis para vos contar que há alguns anos atrás um jornalista de Lisboa acordou-me muito cedo, muito excitado, para eu lhe dar mais pormenores sobre um "documentário sobre Angola" que tinha acabado de ser nomeado para um Oscar. Para sua desilusão tive que lhe dizer que o documentário era sobre Angola no Luisiana. Tive que depois que lhe explicar que não era palavra trazida por um retornado.
Mas estas Angolas no Luisiana e em Delaware despertaram-me o interesse. E aprendi muito. Vocês sabem por exemplo que as estimativas são que 40% de todos os escravos que aqui chegaram vieram de Angola? Sabem por exemplo que os primeiros africanos a chegar ao que é hoje os Estados Unidos vieram de Angola? Uma delas chamava-se Ângela. Está registada nos arquivos de Jamestown no estado da Virgínia. Teve sorte. Trabalhou como serviçal doméstica para um capitão inglês e sua excelentíssima esposa.
Sabem que os primeiros escravos a serem levados para a cidade de Nova Iorque eram todos eles sem qualquer excepção de Angola? Um dos primeiros foi "Groot Manuel", ou Grande (em Holandês) Manuel. Outros foram Paulo Angolo, Little Manuel, Manuel de Reus, Anthony Portuguese, Garcia São Tome, Susana d'Angola, Samuel Angola, Emmanuel van Angola, Andries van Angola. Tudo bem documentado. Visto com os meus próprios olhos num museu em Nova Iorque.
E mais: Sabem por exemplo que a Carolina do Sul foi o estado que mais angolanos recebeu? E que há historiadores americanos que pensam que os angolanos foram aqueles que mais influência deixaram entre a população negra americana que contudo pensa que vieram todos do Senegal ou da Nigéria? (alguns pensam que os escravos vieram todos da África do Sul por causa do apartheid e ficam muito chateados quando se lhes diz que dali não veio nem um e que portanto não podem ser família do Nelson Mandela).
Sabem que no dia 9 de Setembro faz 267 anos que se iniciou a maior revolta de escravos dos Estados Unidos liderada por um angolano de nome Jemmy? Foi na Carolina do Sul e os escravos mataram uma série de proprietários brancos a caminho da Florida onde esperavam encontrar a liberdade. Começou por ser um pequeno grupo de 20 angolanos que depois cresceu rapidamente para mais de 100. Mataram também crianças brancas, só porque eram brancas. Acontece neste tipo de guerras. Foram apanhados e os líderes tiveram as cabeças decepadas e colocadas em estacas para servir de aviso a outros escravos. Acontece neste tipo de guerras.
Índios foram contratados pelos brancos para os apanharem e outros negros que se recusaram a juntar aos revoltosos foram mais tarde recompensados.
Enfim tudo fascinante. Creio que dá um excelente documentário ou reportagem fotográfica. Angola USA.
Se souberem de algum financiador digam-me. Agucem-lhe o apetite com outra reportagem deliciosa: "Lisbon USA". É verdade. Há muitas Lisbons aqui nos states. Um dia falo-vos sobre isso.
Para já um abraço,
Aqui da Capital do Império.

Jota Esse Erre (que eu não sei quem é!!!!)

O cinismo da Igreja

(Desculpa, já não és um feto - Não te podemos proteger!)
Recebido por e-mail

Diamantes de Sangue

Há filmes que nos prendem aos pensamentos e nos deixam a pensar com é possível haver realidades tão crueis como a ganância do tráfego de diamantes feito pelos "ricos e intoleráveis" aos "pobres e miseráveis". Diamante de Sangue (Blood Diamond) retrata a realidade da Serra Leoa na década de 90 e conta a história de um mercenário sul-africano, Danny Archer (Leonardo di Caprio), que já tinha tido uma experiência em Angola integrado no Batalhão Búfalo e do pescador Solomon Vandy (Djimon Hounsou). Nascidos no mesmo continente têm histórias completamente diferentes mas com destinos unidos na procura de uma riqueza que provoca a dor e o sofrimento nos povos do seu continente. A saga das crianças soldados são denunciadas pela jornalista norte-americana Maddy Bowen (Jennifer Connelly), lindíssima, e que consegue, ainda, trabalhar para a descoberta dos verdadeiros culpados da venda dos diamantes sujos. Magnífico, este filme rodado em Moçambique, África do Sul e Serra Leoa, com canções de Yossou Ndour, deve ser obrigatório o seu visionamento por quem gosta de África e pensa que o continente negro pode ser o futuro da humanidade como foi o seu berço. Não pensarmos, como é dito no filme, que no continente africano tudo se passa no mais sangrento dos palcos porque tem que ser TIA (This Is Africa!). Não deve ser assim. África precisa de se levantar e caminhar sem interferências externas. Para bem de um mundo melhor.

quinta-feira, janeiro 25

O que fazemos por amor! Até somos ridículos...


The things we do for love, Glauce Cerveira

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